Do Croqui à Cocri: A gestão do design em um processo de Cocriação

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Do Croqui à Cocri foi um Trabalho de Conclusão de Curso desenvolvido com o intuito de promover uma nova interação do design e a sociedade.

Amparado pelos pressupostos da Cocriação, a proposta do TCC adotou esta estratégia como combustível para um processo e para ser desenvolvida em ambiente de trabalho onde o fluxo de ideias é estimulado e fluido e a troca de sugestões se torna totalmente horizontal, ou seja, não há hierarquia pré-determinada no processo de criação e a responsabilidade pelo resultado é coletiva.

A Co-criação é uma estratégia adotada pela Gestão do Design como ferramenta para inseri-lo no processo de trabalho e identificar os pontos a serem melhorados, colaborando na viabilização do projeto.

A opção por este tema teve inspiração na experiência do aluno entre agosto de 2012 e agosto de 2013, quando ele participou de um programa de intercâmbio pelo programa Ciências Sem Fronteiras, lançado naquele ano pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológio, o CNPq, na Universidade de Lisboa.

Frequentando as aulas do curso de Design daquela Universidade, Wesley pode ampliar estudos para outros campos com os quais tinha tido até então pouco contato, como Design

Gráfico e Arquitetura. Uma das disciplinas cursadas neste período foi Gestão de Design, em que foram abordados temas como Estratégia, Branding, Inovação e Co-criação.

O termo cocriação

Segundo Augusto de Franco, um dos criadores e netweaver da Escola-de-Redes (rede de pessoas dedicadas à investigação sobre redes sociais e à criação e transferência de tecnologias de netweaving), o termo Co-criação foi utilizado em 2000, com o sentido de sinalizar a “participação do cliente na produção.”

Franco atribui a autoria do termo aos autores: Coimbatore Krishnarao Prahalad e a Ventak Ramaswamy, por ele citados em artigo da Harvard Business Review (“Co-Opting Customer Competence”).

Inicialmente a estratégia foi utilizada como uma ferramenta de Marketing para aproximar o cliente da produção, visando obter inovação, já que a Co-criação é uma forma de inovar o negócio, associando terceiros (fornecedores, clientes, etc) ao produto, que em troca recebem benefícios da sua contribuição

Do croqui ao cocri

Adotando como protagonistas e parceiros desta experiência de desenvolvimento e gestão do Design os alunos do 5º ano F da Escola Municipal Cora Coralina, em Mauá, São Paulo, o autor propôs um workshop com estes alunos, tendo como parceiro neste processo a pedagoga Jéssika Moraes Reis Lucena, professora do grupo

Através do workshop, os alunos tiveram exemplos e estímulos e foram convidados a identificar pontos e aspectos que eles julgassem inadequados na escola. A partir daí, o grupo se reuniu e não só propôs soluções como também as colocaram em prática.

Como referencial teórico, o trabalho utiliza os workshops desenvolvidos por Elizabeth Sanders, Jack Schulze do escritório de consultoria de design Schulze&Webb, e também o design da empresa californiana Apple. Retomando discussões que começaram no séc. XIX, com a visão construtivista da educação e do design estudados pela sueca Ellen Key, o trabalho também discute eventos que marcaram aproximações entre o design e do crescimento da criança no MoMA (Museum of Modern Art New York) e no MCB (Museu da Casa Brasileira São Paulo) com as exposições The Century of the Child 1900-2000: Growing by Design e Sementes Suecas: A Suécia Desenha para Crianças, respectivamente.

A ligação entre a criança e o design também é observada pelo projeto de Kiran Bir Sethi, indiana criadora do Design For Change, que coloca as crianças diante de problemas sociais e as insere na resolução destes problemas, tratando-as como agentes viabilizadores do design, e portanto um meio capaz de transformar a sociedade.

No estudo de caso abordado pelo trabalho, desde a identificação dos pontos a serem melhorados no ambiente escolar, até as propostas e a execução delas, a Cocriação foi o elemento chave do processo, almejando a formação de uma nova “classe” de pessoas ao longo do tempo, que passam de usuários a cocriadores segundo Sanders, até a adoção de uma “Nova Cocriação”, defendida por Augusto de Franco.

SegundoWesley Vargas, “Não esperamos mudanças drásticas. Não esperamos por exemplo chegar em um dossiê de novos objetos a serem fabricados para resolver problemas detectados pelas crianças. Esperamos soluções que as próprias crianças possam “fabricar”. Em visita à escola, detectamos uma vasta quantidade de objetos disponíveis para a reutilização, uma vez que a escola tem uma grande preocupação com a ecologia.

Mas antes mesmo desses objetos e concretização das soluções, pretendemos mostrar a essas crianças, que já têm uma pré-disposição à falta de oportunidade imposta pelo sistema, que elas podem fazer parte da sociedade. Elas podem e elas devem. E uma dessas maneiras de participação é através de mecanismos de coparticipação no campo do Design. Dessa forma, esperamos solucionar problemas e criar cultura dentro da gama de possibilidades que o Design nos disponibiliza.”

Aluno: Wesley Simões Vargas

Orientadora: Profa. Dra Myrna de Arruda Nascimento

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